Para tanto, tinha um prazo exíguo nas “capitais” - dois dias, após os quais deveria rumar com minha esposa para o interior do Estado, para visitar seus familiares. Viajei levando comigo as referências carnavalescas de minha terra, as quais inevitavelmente serviriam como base comparativa de minha “análise” sobre a festa de Momo da ex-província rebelde.
Para minha felicidade, o Carnaval em Pernambuco confirmou todas as minhas expectativas. A frequência das multidões aos pólos de carnaval espalhados por Recife e Olinda assim como nos blocos mostra a marca democrática que esta festa assume de maneira particular no Estado, ao contrário do que se vê no “circuito Barra-Ondina” do carnaval de Salvador(BA), com seus selecionados (pela grana) frequentadores de blocos. O maior dos blocos pernambucanos, o Galo da Madrugada, é uma festa: cordas só para um isolamento mínimo entre os trios elétricos e “freviocas” que, ao longo de exaustivas oito horas de desfile atravessam o circuito armado no centro histórico do Recife.

O que se ouve? Frevo, é claro! De vários tipos e nomes, inclusive a “Vassourinha”! Mas também tem forró e, nas ruas, o “brega”. Muitas músicas eu já conhecia por ouvi-las em casa. Sombrinhas de frevo, camisas representando as cores ou mesmo a bandeira de Pernambuco são onipresentes, revelando ao país outra das características dos pernambucanos, que é a valorização de sua história e cultura, criando uma espécie de “ufanismo” local que destaca ora o pioneirismo ora a grandiosidade existente em Recife e no Estado como um todo. Para um carioca como eu, acostumado ao que o historiador pernambucano Evaldo Cabral de Melo chamou de “riocentrismo”, isso chega a ser divertido!
Bom, a chuva atrapalhou um pouco, mas deu pra acompanhar o Galo de três maneiras: “in Loco”, junto ao povão; pela janela do quarto e na cobertura do hotel (oh sorte!) e pela TV (a Globo Pernambuco transmite o Galo durante toda a manhã e parte da tarde). No dia seguinte ao Galo, o centro do Recife fica bem vazio, com as atividades passando a se concentrar no Marco Zero, com shows e apresentações de grupos culturais (maracatus, por exemplo).
No mesmo sábado do Galo estivemos em Olinda para acompanhar a movimentação - e, é claro, encontrar algum boneco gigante. Infelizmente, esses costumam sair na segunda e terça de carnaval, mas acompanhamos alguns maracatus nas ladeiras históricas. Novamente, a chuva refrescante foi vila, e tivemos que voltar ao hotel, mas com retorno marcado para a manhã do dia seguinte.
Com sol no dia seguinte foi possível apreciar uma característica fantástica do carnaval olindense: o capricho das fantasias elaboradas pelos foliões. O esmero de muitas fantasias é tamanho que, sem qualquer ressentimento, adoraria ver essa dedicação com a arte de se fantasiar copiada maciçamente aqui no Rio. Nosso carnaval ganharia um colorido a mais todo especial. Com relação aos blocos, foi possível acompanhar apenas um de frevo (Palhaços de Olinda) e outro Maracatu se concentrando. Olinda pela manhã dorme o sono dos anjos, para por volta do meio-dia despertar com fúria avassaladora.


A partir de então fui acompanhar o carnaval do interior, mais especificamente da cidade de Pesqueira. Obviamente não possui a estrutura e extensão do carnaval recifense, mas honra as tradições momescas do Estado ao investir nas orquestras de frevo, nos pequenos blocos formados por três dezenas de foliões seguindo um estandarte e uma banda. Pude presenciar também um costume do carnaval local, “la ursa”, onde uma pessoa vestida de gorila (!) pede dinheiro pelas casas, acompanhada de músicos e estandarte. Curioso!
Em suma, gostei muito do que vi, necessitando é claro de repeteco(s). A força da multiculturalidade somada à pernambucalidade (ih, Caetanei!) do povo de lá realmente me impressionaram. Agora, sobre ser o maior e melhor carnaval do país, é outra história. Esses delírios de grandeza recifenses já são habituais aqui pelas bandas de Madureira...
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