quarta-feira, 25 de maio de 2011

“Paul In Rio 2011”: agora posso morrer em paz!


Todos temos nossas preferências artísticas e musicais. A partir delas, todos nós, ao longo da vida, aprendemos a gostar de determinados músicos ou bandas pelos mais variados motivos: uma música em especial que se associou a um momento de nossas vidas, como o nascimento de um amor ou a perda de um ente querido; um estilo de se vestir e de se portar que promove empatia; excelência musical; a defesa de alguma causa ou classe social, o engajamento; entre outros. Cria-se então a idolatria por uma pessoa (ou grupo de pessoas) que de alguma forma inspira as nossas vidas com a sua arte. Essa admiração nos traz a vontade de conhecer o(s) ídolo(s), assistir pessoalmente sua performance, estar perto por alguns instantes, mesmo que o "perto" em questão sejam três ou mais metros de distância, eventualmente separados por uma grade.

Foi assim que me senti quando, por exemplo, assisti a grandes estrelas do futebol contemporâneo como Bebeto, Edmundo, Romário, Rivaldo, Juninho Pernambucano, Roberto Carlos e outros, em campo (por uma ou diversas vezes). Ou quando assisti aos shows do Iron Maiden, Guns n' Roses (no RIR III, de 2001, um show memorável, embora já com a banda desfigurada), Foo Fighters (do ex-Nirvana David Growl), REM, Roger Waters (ex-Pink Floyd), Eric Clapton, Ozzy Osbourne. E assim foi segunda-feira, no Engenhão, no show de Paul Mccartney.

 
Não posso dizer que sou um beatlemaníaco, nem de longe. Conheço outras pessoas que admiram e sabem muito mais de Beatles do que eu. Só tenho um disco deles (um CD, que acabo de descobrir estar seriamente avariado, embora ainda toque). Mesmo com credenciais tão baixas, tenho uma profunda admiração pelo trabalho desses quatro caras que revolucionaram a música e a cultura pop há cinquenta anos atrás, e lançaram as bases definitivas do rock n' roll. Impossível ser rockeiro e não gostar de Beatles. Hoje, com a banda reduzida à metade, multiplicam-se os fãs a uma velocidade impressionante para uma banda que acabou há quase trinta anos, como eu pude comprovar ontem no Estádio Olímpico João Havelange: para cada "coroa" fã "original" dos Beatles (quer dizer, que curtiu a banda durante sua existência), havia um fã trintão ou quarentão (que, por exemplo, seguiu as carreiras solo dos ex-Beatles) e dois fãs na casa dos vinte anos pra baixo (que nem eram nascidos quando Mark Chapmam matou John Lennon e “o sonho” em 1980).  

            Paul Mccartney foi um dos cérebros dos Beatles, e junto com John Lennon protagonizou uma das duplas mais célebres da história do Rock – e por que não da música – mundial. Com o fim da lendária banda, “Macca” lançou-se em vitoriosa carreira solo, junto à banda “Wings”, da qual fazia parte sua falecida esposa Linda. Ao fazer seu primeiro show no Brasil, em 1990, Paul carregou 184 mil espectadores ao Maracanã, dando a ele o registro no Guiness Book de “o maior público em um estádio para um único artista”. Ano passado três apresentações agitaram Porto Alegre e São Paulo, e anteontem encerrou-se a sequência de duas apresentações em terras cariocas. O que posso garantir, amigos, é que este foi um dos – ou talvez “o” – melhores shows que vi na vida.
            Por volta das 20:30 iniciou-se o show de abertura, com discotecagem repleta de sucessos dos Beatles – e com algumas canções brazucas. Mais ou menos as 21:00, o DJ retira-se do palco, e uma projeção nostálgica invade os telões, ao som de músicas remixadas dos “Fab Four”: colagens de fotos, vídeos e imagens icônicas que remetem à várias fases das carreiras de Paul, nos Beatles e solo. Dando razão ao clichê “pontualidade britânica”, as 21:30 a projeção chegou ao fim ao som de “The End”, as luzes se apagam e eis que Macca escoltado por sua excelente banda. Ao contrário da primeira noite, quando iniciou com “Hello, Goodbye”, Paul cravou “Magical Mistery Tour”, levando a coroada ao delírio, seguida pelo hit da época dos Wings “Jet” (uouooouoooouoo!). O repertório deste segundo show foi levemente alterado (20% das canções), o que foi uma surpresa agradabilíssima para quem foi ao show de domingo.

             É impressionante a disposição, o virtuosismo – instrumental e vocal – e a simpatia do ex-Beatle, lendo falas em português com um divertidíssimo “sotaque carioca”, além de brincar e conversar o tempo inteiro com a platéia. Contagia mesmo aquele que só foi ao show pelo “oba-oba” – na minha opinião, caso raríssimo, tamanha era a quantidade de jovens cantando e se emocionando ao meu redor. A banda é um item a parte, fantástica em todos os sentidos. Trocando de instrumentos a todo o instante – baixo, guitarra, violão, banjo, piano – Paul desfiou um leque apaixonante de canções, priorizando as dos Beatles, incluindo duas homenagens aos amigos já mortos John Lennon e George Harisson – para este uma lindíssima versão de “Something”, com Paul tocando a 1ª metade só com banjo e voz, e a banda, matadora, emendando a versão original logo em seguida. Segurei as lágrimas!
           Sucessos de todos os calibres – “Back In the U.S.S.R”, “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, “Band On The Run” – que eu ansiosamente aguardava – “Eleanor Rigby”, e então veio a sequência final: “Let It Be”, “Live and Let Die” (a que eu mais queria assistir), “Hey Jude”, e os dois bis, com “Yesterday”, “Helter-Skelter”, “Day Tripper” e a dobradinha final, “Sgt. Pepper’s.../The End”. Apoteótico, memorável, inesquecível... Se faltou algo – e pode crer que sim! – não fez a menor diferença.

Ainda não assisti ao Pink Floyd original – com Gilmour, Writh e Mason – nem ao Led Zeppelin – ou pelo menos Page e Plant – mas, como afirmei no título deste post, hoje e por um bom tempo isso também não faz a menor diferença!!   

Set List do show:
1. "Magical mistery tour"
2. "Jet"
3. "All my loving"
4. "Coming up"
5. "Got to get you into my life"
6. "Sing the changes"
7. "Let me roll it"
8. "The long and winding road"
9. "Nineteen hundred and eighty five"
10. "Let 'em in"
11. "I'm looking through you"
12. "And I love her"
13. "Blackbird"
14. "Here today
15. "Dance tonight"
16. "Mrs. Vandebilt"
17. "Eleanor Rigby"
18. "Something"
19. "Band on the run"
20. "Ob-la-di, ob-la-da"
21. "Back in the USSR"
22. "I've got a feeling"
23. "Paperback writer"
24. "A day in the life / Give peace a chance"
25. "Let it be"
26. "Live and let die"
27. "Hey Jude"
BIS
28. "Day tripper"
29. "Lady Madonna"
30. "I saw her standing there"
BIS
31. "Yesterday"
32. "Helter skelter"
33. "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band / The end"